domingo, 6 de julho de 2014

Amigas

Uma mulher passeia triste por um parque
 logo depois de se separar do marido. 
Depois de trinta anos, ele resolveu trocá-la por uma mais jovem. 
Ainda assim, ela o ama a ponto de abrir a bolsa e... 


Eli HIlda

A história que conto começa quando, numa tarde linda  fui passear com minha amiga dos tempos de escola. Ela, muito triste, passou a me contar sobre seu casamento. Já fazia trinta anos e, para minha surpresa, começou a chorar, contando que o marido a abandonara por uma garota mais nova. Mas ela ainda o amava mais que tudo na vida.
Ela abriu a bolsa e dei uma olhada, pensando que ia tirar um lenço para enxugar suas lágrimas. Mas dentro da bolsa havia uma arma. Ela disse que a carregava para sua defesa. Fiquei desconfiada e disse: “não faz nenhuma besteira, pois não vale a pena. A vida é muito preciosa, e tens que olhar pro espelho e conversar contigo mesma, dizer ‘eu me amo mais que tudo, vou esquecer esse ingrato e viver, viajar, curtir a vida’, pois estás ainda muito bonita , não faltará um grande amor para ti”. E assim nos despedimos. Ela agradeceu por meus conselhos e ficou muito feliz por ter me encontrado ali no parque.
Passados uns três meses, encontrei minha amiga em um passeio. Dessa vez veio feliz, me abraçou e me apresentou seu novo amor, por sinal  muito bonito e educado. Eu falei: “e daí, valeu pois esse teu amor é mais lindo que o primeiro". Ela me disse: “obrigada por teus conselhos”. Eu falei “amigos são para essas horas, quando mais necessitamos”. Perguntei sobre a arma que vi em sua bolsa, e ela me respondeu: “é coisa do passado, já me desfiz. Se não fosse você, amiga, a esta hora estaria talvez em uma cadeia ou no túmulo Obrigada por ser minha amiga.”


O susto

Noely Gonçalves

 Um homem dirige pelas ruas de madrugada.
Não há viva alma que se atreva a sair de casa tão tarde,
principalmente depois do que aconteceu com aquele forasteiro. 
De repente, uma sombra surge na esquina...


Um dia, batendo um papo com nosso vizinho, ele nos contou que nunca havia tido tanto medo em sua vida quanto sentiu um dia em que estava na casa de seus pais no interior. De madrugada, foi obrigado a sair de carro, pois seu filho havia se acidentado e estava só. Mas conseguiu ligar. O homem saiu de casa sem dizer nada a seus pais, para não preocupá-los.
Só depois de ter saído e andado muito pelas ruas sem encontrar uma viva alma foi que começou a sentir medo, pois lembrou de um homem que teria sido assassinado por bandidos. Ninguém  saía de casa fora de hora porque nunca tinha acontecido tal coisa naquela cidade.
De repente, ainda longe do local onde o filho tinha explicado que estava, ele avistou um vulto numa curva muito escura. Parou então. Não sabia o que fazer. Tinha que passar, pois o filho precisava que ele o socorresse. Finalmente decidiu seguir. Mas, ao chegar perto do vulto, viu que era nada mais nada menos do que um cavalo que estava parado na curva.
Finalmente, ele conseguiu chegar ao local onde se encontrava o filho, que lá estava desmaiado. Felizmente, pode socorrê-lo.
Diz nosso vizinho que nunca passou por tanto medo em sua vida.


Voltas que o mundo dá

Romilda

Uma jovem descobre que está grávida. 
Ainda sob o efeito da novidade, ela pega o carro e sai... 



Certa manhã, Clarisse, jovem secretária de uma grande empresa, sentiu-se mal, chegando mesmo a desmaiar. Todos os seus colegas ficaram alarmados, levaram-na para a saleta dos funcionários e, assim que acordou, lhe deram água. Já recuperada mas ainda pálida, quis voltar ao trabalho. Seu chefe porém insistiu que ela fosse a uma clínica próxima. Ate liberou uma colega para que fosse junto.
Chegando lá, foi logo atendida. Depois de feitos os exames, o médico lhe falou: “não há com que se preocupar, você está com saúde boa, apenas esses incômodos, o que é normal no seu estado. É só fazer o acompanhamento pré-natal”. Ao que Clarisse disse: “o quê?”. O doutor notou que ela não havia entendido e falou claramente: “você está grávida de quatro semanas”. Clarisse deu um pulo na cadeira e disse: “como?”. O médico repetiu. Ela petrificada já não o escutava, só repetia a si mesma: “mas como, se eu sempre me cuidei? Não pode ser, como vou fazer com meu trabalho, e estudos e meus pais?” Eram tantas perguntas, que estava fora do mundo. Foi preciso o médico tocar em seu ombro e perguntar se ela estava bem. Para sair do estado de torpor, ele repetia: “você está bem?”. Clarisse não tinha certeza de nada, estava zonza e ainda sob o efeito da novidade, saiu correndo. Nem lembrou da colega que estava na saleta de espera, pegou o carro e saiu queimando os pneus.
A princípio rodou sem destino, mas depois lembrou-se de Jorge. Será que, ao saber, não iria achar que ela ficara grávida por vontade, para forçá-lo a casar com ela? Não, ele não poderia pensar assim, pois muitas vezes tentara mencionar o assunto de casamento, e ela mudara de assunto, literalmente caía fora, dizendo: “primeiro quero me formar e fazer nome profissional. Eu te amo, mas só daqui a muitos anos, se você esperar, casarei com você. Agora eu não posso e nem quero compromisso”.
Parou um pouco para coordenar as ideias e lembrou de seu amigo de infância, agora médico. Foi falar com Augusto, onde ele trabalhava. Logo que lhe abraçou, contou seu drama e pediu que ele a ajudasse fazendo um aborto. Suplicou em nome de sua amizade de infância, mas Augusto foi irredutível. “Clarisse, eu estudei para dar e salvar vidas, não faço esse tipo de coisa”. Depois de tanto pedir e chorar, entretanto ele disse “calma, querida, há uma clínica de um amigo meu que, de vez em quando, faz isso. Embora eu não concorde, cada um com sua ética”. Clarisse pegou o endereço e foi à malfadada clínica, marcou data para fazer o procedimento em três dias.
No dia marcado, ao chegar à clínica, sua surpresa: Jorge lá estava, na escadaria, avisado que fora por Augusto. Logo que a viu, foi dizendo “meu amor, já que você não quer se casar comigo, não nos casaremos, mas me dê a alegria de criar meu filho. Eu cuido dele e você pode trabalhar e estudar. Nada vai impedir, eu te prometo.Você hoje tem dezenove anos, tem toda a vida pela frente, não vai alterar por perder nove meses e continuar com saúde, pois quem faz aborto sempre fica com algum problema.”
Com esse apoio, Clarisse teve um menino,  e Jorge o levou do hospital . Como eles continuaram o namoro, ela estava sempre presente na vida de Julinho. Com o passar dos anos, Clarisse, formada e bem sucedida no trabalho, casou-se com Jorge. E adivinhe, o padrinho foi Augusto e quem levou as alianças foi  o pequeno Julinho, que feliz tinha os pais reunidos.


Em família








Eleni Ivete

Importante foi que aprendi na vida. Amar, respeitar, compartilhar e agradecer a aproximação de pessoas de todas as idades, convivendo e transmitindo valores e exemplos que jamais esqueci.
Meu avô era português, de caráter forte, enérgico nas atitudes e sábio. Dizia que, para ser vitorioso, é preciso saber viver em todos os momentos da vida, que nem sempre era um mar de rosas. Tínhamos que ter cuidado porque existem pessoas maléficas ou pobres de espírito, para nos saber defender.
Minha avó, meiga e doce, prendada dona de casa. Tudo o que aprendi foi com ela: cuidar e amar as flores, cozinhar doces, pães, cucas, etc. Minha casa tem flores e coisas vivas, como dizia vovó. Não sei viver sem elas, são minhas companheiras.
Aprender amando. As pessoas jamais esqueceremos. Porque só o amor constrói.

Meu vilão





Edith

Meu conto é sobre um senhor que esteve na Segunda Guerra como paraquedista. Ele tinha o desejo de praticar esse esporte, mas, com a idade, perdeu o controle dos membros.
Num dia lindo, de sol radiante, alguns meninos resolveram ajudá-lo na difícil manobra. Combinaram e conseguiram dar esse carinho ao professor de seus pais. Houve um consenso: um levaria o ancião e os outros fariam a retaguarda.
Porém, como sempre tem um desmancha-prazeres, um jovem como eles resolveu sabotar o trabalho. Seu nome era João, um recruta metido a besta. Sendo paraquedista do exército, jamais deveria ignorar o sofrimento humano. Como o paraquedas estava em sentido contrário do vento, ele sentiu que ia dar problema, a biruta do aeroporto estava mostrando a direção. O cretino deixou levar os colegas numa luta impossível.
Eles conseguiram aterrissar,  só que o jovem que carregava o ancião não conseguiu colocar os pés no chão. Preocupado, olhou o outro menino que, com carinho, segurou as mãos do idoso, sentindo prazer em ajudar ao próximo.

João, o vilão da história, covarde e inconsequente, fugiu e acabou caindo no mar.

Tempo de infância





Eli Hilda

Essas duas fotos me trazem recordações do tempo de minha infância, dos meus primeiros anos de escola. Minha professora de ciências, que se chamava Ester, nos ensinou a plantar mudas de árvore para que, mais tarde, nós pudéssemos ter no que estudar sobre tudo das florestas e ter nosso oxigênio até o fim dos nossos tempos.
Recordações muito boas, mas como em tudo temos coisas engraçadas, havia um amiguinho de escola, chamado Manoel, muito inquieto e que não gostava daquela aula. Nós tínhamos que aguar as mudinhas que plantávamos, mas as plantas morriam porque o Manoel, na hora do recreio, fazia xixi num copo de plástico e molhava as plantas.
A professora Ester ficou sabendo porque o Jair, um amigo do Manoel, contou. Mas o Manoel nunca quis admitir que fazia aquela peraltice e, por isso, ficou de castigo: levou um tema de casa em que tinha que escrever 500 vezes “não devo aguar as plantas com xixi”.

Esta é a minha história, que acho muito engraçada. Mas até hoje lembro também como foi triste nós plantando para vê-las nascer, e ele as matando.

Lavando pratos







Maria Eloá

Moramos em um condomínio e ficamos muito próximos de nossos vizinhos. No lado da minha unidade, tenho a minha vizinha Eli, que é costureira, muito boa pessoa, muito prestativa. Ela tem uma filha de onze anos chamada Raquel, uma graça de menina, inteligente, educada, muito estudiosa. A mãe a leva para a escola todos os dias e a busca também.
Outro dia, fui à casa delas levar algumas costuras logo após o almoço, e ficamos conversando sobre modelos e tamanhos. Nos distraímos e deixamos a Raquel sozinha na cozinha. Após algum tempo, fomos ver o que ela fazia e a surpreendemos lavando a louça sem ninguém mandar. Suas mãozinhas muito pequenas mal podiam levantar os pratos e travessas. Mas se virava como podia, lavava um lado e, com as duas mãos, os virava descansando-os na bancada da pia, e lavava do outro lado, tendo cuidado de virar para enxaguar. Olha a responsabilidade, limpou todos os pratos, colocou resíduos em uma sacola para descartar no lixo próprio. Sua mãe reclamou do uso maior do detergente, pois é ela quem vai ao mercado fazer as compras. Raquel está sempre pronta para ir junto, ajudar a trazer as compras. Ambas com as suas sacolas retornáveis para preservar a natureza.
Mas nem tudo é bonito e bom no nosso condomínio. Temos um vizinho fronteiro às nossas casas que é um demônio. É mal educado, inconveniente. Ele tem um namorado que coloca o carro fora do estacionamento e sempre temos que pedir pra tirar para podermos sair. Ele fica olhando, querendo dizer desaforos pra gente. Às vezes, ficam se abraçando na frente da casa, e a Eli tira a Raquel para ela não ver.
Eu trabalho fora e a Eli sempre repara nossas casas, pois ela sempre fica em casa.
Não é nada fácil morar em condomínios porque temos todo o tipo de vizinhos. Temos que ter muito jogo de corpo, mas compensa pelos amigos queridos que temos. 



Um domingo em família








Maria Geni

Aquela senhora costumeiramente só, viúva, mãe de duas filha já casadas, e com netos de idades variadas,  morava em uma residência grande, com pomar e jardim. Mas estes estavam um tanto abandonados por ela que, em virtude da idade, não conseguiu dar a mesma atenção como quando da presença do seu falecido marido.
Num domingo ensolarado, foi surpreendida pela visita de suas filhas, netos e genros. O dia teve um colorido diferente. Que felicidade! Como cresceram as crianças! Seus genros se prontificaram em fazer um churrasco; suas filhas, as saladas; enquanto as crianças brincavam. Mais tarde, almoçaram ao ar livre, debaixo de um parreiral.
Após o almoço, saíram a caminhar e notaram o abandono do pomar e jardim. José, um dos genros, criado em roça de aipim, feijão e milho, prontificou-se a fazer um mutirão para limpar carpir e plantar. Esposo de sua filha mais velha, no vigor de seus 38 anos, forte e generoso, encabeçou a turma e deixou tudo com outra vida.
Apareceram insetos que tentaram fazer estragos, mas foram combatidos com inseticida caseiro, o que deixou as plantas livres de agrotóxicos.
Nos próximos encontros, todos usufruíram das verduras e frutos do pomar.

O cavalo

Noely Gonçalves



Num final de semana com sol, crianças brincavam no sítio do Paulo. Junto estava também meu sobrinho Paulo Henrique. Ele pediu para montar em um dos cavalos que estava ali perto no campo. O tio de Paulo Henrique deixou então que ele montasse no cavalo e fosse dar a volta que tanto queria.
De repente, não se sabe por que, o cavalo saiu em disparada. Todos os que lá estavam ficaram assustados, mas todos também sabiam que, apesar de estar acuado, o animal não conseguiria derrubar o menino, ou mesmo mordê-lo. E foi o que aconteceu: ele conseguiu dominar o cavalo, e tudo acabou bem.
Apesar do susto, o dia acabou bem, e foi muito bom. No final do dia, já à noitinha, a surpresa foi muito grande com a churrascada e muita música.



Momento


Edith

Com o mundo em constante evolução, as pessoas se tornaram estranhos no mesmo ninho; o progresso, com tanta tecnologia, desuniu a humanidade.
A cada século, são reformulados os conceitos dos homens, tornando-os egoístas, indiferentes com aqueles que não conseguem acompanhar essas engenhocas descartadas a cada dia, destruindo o planeta com lixos perigosos
A sólida  argamassa que prendia os azulejos na parede está se soltando; caem pelo chão os fragmentos. Os cacos ferem a quem tenta segurá-los, deslizam numa frenética dança, errando os passos ao tentar unir os pares no compasso da valsa cadenciada em que os casais se comunicam com os pés, nu abraço ritmado, com um sorriso dissimulado no olhar.
Ninguém mais vive essa cumplicidade que eleva o espírito a Deus; se a consciência é o espelho da alma, porque não deixamos esse reflexo agir sem mágoas na vida?
Sabemos que os tempos estão findando, vamos dar as mãos nesse toque fraterno que Jesus espera da humanidade.


A carta

Romilda

Todo dia, quando o carteiro passava, ela dizia a si mesma: “dez longos anos que meu filho foi para a guerra e, no começo, me mandava uma carta por semana e, depois, uma por mês e, por fim, cessou a remessa de notícias”. Ela murmurava baixinho, seria muito bom se Fernando mandasse notícias.
No começo, virou obsessão: todos os dias, na hora do carteiro passar, ela ficava no portão esperando notícias que nunca chegavam! Com o passar do tempo, o velho carteiro só provocava lembranças na velha dona Joana. Há mais de oito anos que a guerra havia acabado, nem no quartel davam notícias concretas sobre ele, apenas diziam: “notas de morte não há; para nós, ele está desaparecido em combate”. E assim o tempo foi passando, a pobre Joana dizia: “pelo menos ele está vivo”.
Os meses passando e, no dia de seu aniversário de 60 anos, seus vizinhos e amigos fizeram uma pequena festa, pois queriam lhe atenuar as lembranças e saudades. Quando acenderam as velinhas e começaram a cantar parabéns, ela se preparando para apagar as velas e fazer o costumeiro pedido, ouviu-se a campainha da porta. Alguém foi atender e voltou dizendo: “é pra você, Joana”. Ela foi atender um tanto aflita, pois seu coração estava apertado, algo havia acontecido. E qual não foi sua surpresa ao ver o velho carteiro com uma carta na mão. Ela tremendo pegou a carta e logo reconheceu a letra de seu filho, seu amado filho. Se alguém não a amparasse, ela teria caído. Trouxeram-lhe água. Ainda pálida, sentou-se na sala e, rodeada pelos amigos, abriu o envelope. Logo leu as palavras: “te amo, minha querida mãe”. Joana não conseguiu continuar pois a emoção era demais, era um misto de surpresa e alegria. Era demais para seu sofrido coração a emoção transmitida por aquela missiva almejada por tantos anos. Eram tantas perguntas borbulhando na sua cabeça. Como estaria o filho hoje, pois quando partiu era jovem e na flor da idade. Pediu à amiga Bia que lesse a carta. Atenta ao que o filho contava, ela escutava aterrorizada. Dizia ele:
“No final da guerra, quando o batalhão se retirava, alguém bateu em uma mina, que explodiu. Muitos do pelotão pereceram, outros foram para o hospital, e eu, com a explosão, fui jogado longe, no meio da mata, pois estávamos andando em uma trilha que nos levaria à estação de trem onde iríamos fazer a retirada. Com o impacto, fui lançado mais além do lugar do ocorrido e, com tantos feridos e mortos, não deram pela minha falta
No outro dia, um colono me encontrou quase morto, me levou para casa, e sua esposa e filha cuidaram dos ferimentos até que fiquei bom, porém sem memória. Tornei-me o braço direito do colono de arroz e trabalhei por cinco anos. Apaixonado pela sua filha, casei-me com ela, e temos um menino de três anos.
Há uns dois meses, eu tive uma queda de cima do telhado e fiquei desacordado. Quando acordei, a primeira coisa que lembrei foi da senhora, minha mãe. E, desde então, só penso em você e em como chegar ai pois, apesar de ter casado com a filha do colono, eu sempre fui tratado como servo, pois as famílias asiáticas são muito severas. Como o meu estado não foi tratado e perdurasse por anos, ate que fui me recuperando, mas ainda lembranças vagas.
Enfim, há males que vêm pra o bem: com a minha queda, recuperei toda a memória e logo fui ao consulado de nosso país, onde, a contragosto do meu sogro, consegui passaporte para mim, esposa e filho. Logo estaremos aí para te abraçar e te pedir perdão pelo sofrimento que te ocasionei, embora involuntário.
Te amo, te amo, minha mãe. Logo vais conhecer teu netinho de olhos puxados, e te prometo que ficaremos jutos sempre.
Teu filho, Fernando”. 


O sarau

Maria Geni

Naquele sábado, após um jogo de futebol do qual saímos vencedores, foi programada uma reunião dançante à noite. Nos arrumamos eufóricas pois havia novos rapazes, participantes do time visitante, fortes, viris, atléticos. Jovens nos quais estávamos de olho.
Ao tocar certa música romântica, do tipo para “dançar de rosto colado”, fiquei na expectativa, esperando meu par. Mas qual não foi a minha decepção, pois ele veio a tirar uma outra jovem, do meu lado...

Até hoje, ao ouvir aquela canção, sinto uma dor no peito, e recordo como se o fato fosse recente.

Amor vivido, amor sonhado

Eleni Ivete Araújo

Maria, moça bonita, bem resolvida, loira, elegante, inteligente, mas romântica e sonhadora. Tinha “alegria” com a palavra “amor”. Alegria de amar e ser amada.
Quando conheceu Zé, um caminhoneiro malandro, alto, elegante, de cabelos pretos com brilhantina e bigode. Ele sabia ser envolvente quando queria. Maria se encantou com sua lábia e não viu mais nada, entregou-se de “corpo e alma”.
Mas a alegria de viver e amar virou tristezas, mágoas, ressentimento e amargura. Só tristes lembranças e recordações de tudo o que passou, remoída e sem coragem de amar novamente pois o Zé partira com seu caminhão para fazer novas vítimas. Um malandro legítimo.
Rosa, ao contrário, vivia feliz com sua família. Era professora há alguns anos e cuidava de sua mãe viúva. Sonhava em ter um amor, não era segredo para seus íntimos. Todos os dias saía pela manhã e voltava à tarde, sempre alegre, cumprimentava a todos que encontrava, afago nas crianças, sorrisos e um troco para o mendigo que perambulava nas redondezas. Sempre a mesma rotina: aula, casa, trabalho e suas colegas. Mas nunca deixava de sonhar.
Uma manhã, ao sair, uma surpresa: um lindo botão de rosa vermelha no portão. Sem bilhete ou identidade. Emocionou-se, segurou a rosa junto ao coração e contou às amigas. Todas vibraram de algreia, seu dia tinha chegado!
Nos dias seguintes, sempre a mesma rosa vermelha. Nada mais que a rosa vermelha. Rosa sentiu um sentimento profundo em sua alma. Um amor platônico, sem rosto nem forma. Sentiu-se amada e feliz. Começou a pensar que essa pessoa nunca apareceria, para não ter desilusão. Etapa feliz de sua vida.
Ele, o mendigo da rua, não tinha outra forma de agradecer aquele sorriso tão lindo e a esmola. Apanhava a rosa na praça, não tinha nada para dar. Ele, o mendigo, nunca soube que dera a Rosa o que ninguém no mundo tinha dado: o perfume sutil de seu sonho.



História de amor de Joana

Eli Hilda

Joana encontrou um lindo rapaz que se chamava Jair.  Mas, para seu desejo, não era o que queria. Mesmo assim, casou com ele.
Enquanto era solteiro, ele viajava para os destacamentos do exército e, quando em vigem, lhe escrevia lindas cartas de amor. Só não eram respondidas pela moça pois seu amor pelo rapaz era pouco e ela não queria que se apagasse. Então, a mãe de Joana respondia todas, o que Jair descobriu só depois que se casou. Mesmo assim, ele a amou até o dia de sua morte, e lhe deixou quatro filhos, as razões de seu viver.
Hoje ela, ao lembrar, se pergunta: “será que se o amasse como ele nos amou, talvez fosse uma linda história de conto de fada?”
Pois, antes de morrer, ele falou: “vou morrer te amando para que, em outras vidas, eu te encontre e, daí, continuamos nossa história.
Ela olha para o passado e lembra: “será que, lhe amando tanto quanto fui amada, ele ainda não estaria vivo? Pois o amor atravessa muitas barreiras, ele se sentiria amado, largaria os vícios e viveria muito mais.”
Joana sempre fala que ela teria que ter mudado seu jeito de tratá-lo. Acha-se, no fundo, culpada.